Farol da Esquina

20 setembro 2006

Luz ao Fundo do Túnel


Gordon, o Terrível. Pois é, foi um furacão e pêras... O Gordon deixou de facto um rasto de destruição, na comunicação social. Foi deveras preocupante. O «fim do mundo», provavelmente alguns pensaram, pelo menos era o que me ocorria quando alguns jornalistas falavam. Mas haviam mesmo razões para alarme: o furacão atrasou-se e não havia mais notícias emocionantes. Era, por isso, uma notícia imprópria para cardíacos.

Esquecendo a falta de educação do furacão, que havia combinado com o Instituto de Meteorologia para aparecer às 22:00 locais (e afinal parou para tomar café, supostamente para ver as notícias super interessantes que passavam na televisão, atrasando-se), devíamos ficar preocupados com uma triste realidade que ficou a descoberto após a passagem daquela tempestade pouco pontual pelo arquipélago dos Açores: o facto de haver pouca «acção» na sociedade portuguesa, por causa das populações estarem mais que preparadas e a Protecção Civil estar mais que atenta. Fico preocupado obviamente. Isto porque até estava habituado a este tipo de fenómenos aqui na região e agora a comunicação social chega e injecta o pânico em nós. Compreendo que o meio em que trabalham seja um tédio e um antro de mentiras e intrigas... mas isso não é justificação para pregarem sustos aos portugueses e sobretudo a quem vive no arquipélago. Devo dizer que não é este o caminho para criar mais «acção» na nossa sociedade, pois não será assim que atingiremos o patamar dos países do norte da Europa e muito menos inverteremos a evolução demográfica da população. Para isso perguntem aos esquimós o que eles fazem para permanecerem quentinhos.

Não culpo os meteorologistas pela pouca exactidão das previsões. Desde que o Clima os traiu com o Aquecimento Global, os cientistas têm passado um mau bocado. É difícil. Sim, eu sei que os magnatas do petróleo discordam da minha análise, mas também nunca quiseram assumir a paternidade do Aquecimento Global. Contudo, para os meteorologistas mais deprimidos, lembrem-se que é mais fácil prever o tempo que fará amanhã do que ganhar o Euromilhões.

Mas continuo preocupado com o flagelo do mundo jornalístico português... Não quero chamar-lhes oportunistas e autistas, pois não sei bem se são uma coisa ou outra. Torna-se evidente quando se vê na televisão um jornalista de casaco e preparado para lhe cair o mundo em cima e, ao seu lado, um local de t-shirt com uma cerveja na mão, a falar ao telemóvel e a rir para a câmara. Certamente não previu o furacão nem ganhou o Euromilhões mas pelo menos estava descontraído. A Protecção Civil recomendou às populações para se abrigarem, mas isso não faz dele um irresponsável, ele até estava a beber com moderação. Irresponsabilidade será talvez algum sensacionalismo Srs. Jornalistas (vão negar e dizer que era apenas um pouco de alarmismo).

Felizmente o que alguns temiam não sucedeu. Os açorianos se temessem o que alguns temiam então estávamos completamente desgraçados... Não é de admirar, por isso, que quando pus fita-cola nas janelas (andamos a ver muitos furacões Katrina), os meus vizinhos pensassem que ia viajar e estava com medo de ser assaltado. Assaltado?! Fui emocionalmente assaltado pela visão catastrófica que me injectaram. Mas agora já passou. O sol já voltou e, antes que se faça tarde, vou para a praia aproveitar as ondas e o vento. Dizem que é óptimo para praticar windsurf, Srs. Jornalistas.

Deviam ter em consideração as verdadeiras vítimas: os cardíacos. Já não estão em condições para aguentarem tanta «acção». Pois caiu uma árvore, voou metade de uma telha e as saias de algumas desprevenidas... mandem já a ONU!


P.S.: Obrigado pela atenção que nos dedicaram, mas gostávamos que se lembrassem dos Açores quando cá está bom tempo!



Não há dever que tanto descuidemos como o de sermos felizes.

Robert Louis Stevenson




Desiderata


Vai placidamente por entre a agitação e pressa,
e lembra-te da paz que pode haver no silêncio.
Sem seres subserviente,
mantém-te tanto quanto possível,
em boas relações com todos.
Diz a tua verdade calma e claramente;
e escuta com atenção os outros,
mesmo que menos dotados e ignorantes;
também eles têm a sua história.
Evita as pessoas barulhentas e agressivas;
são mortificações para o espírito.
Se te comparas com outros,
pode tornar-te presunçoso e melancólico,
porque haverá sempre pessoas superiores e inferiores a ti.
Apraz-te com as tuas realizações tanto como com os teus planos.
Põe todo o interesse na tua carreira,
ainda que ela seja humilde;
é um bem real nos destinos mutáveis do tempo.
Usa de prudência nos teus negócios,
porque o Mundo está cheio de astúcia.
Mas que isto não te cegue a ponto de não veres virtude aonde ela existe.
Muitas pessoas lutam por altos ideais,
e em todo o lado a vida está cheia de heroísmo.
Sê fiel a ti mesmo,
sobretudo não simules afeição nem sejas cínico em relação ao amor;
porque em face da aridez e do desencanto ele é perene como a relva.
Toma amavelmente o conselho dos idosos,
renunciando com graciosidade ás ideias de juventude.
Educa a fortaleza de espírito para que te salvaguardes numa inesperada desdita.
Mas não te atormentes com fantasias.
Muitos receios surgem da fadiga e da solidão.
Para além de uma disciplina saltitar sê frontal contigo mesmo.
Tu és um filho do Universo,
nem menos do que as árvores e as estrelas.
Tu tens o direito de estar aqui,
e quer isto seja ou não claro para ti,
não há dúvida que o Universo está se a desenvolver como deve.
Por isso,
que fiques em paz com Deus,
seja lá qual for o teu conceito Dele.
E sejam lá quais forem os teus objectivos e aspirações,
na confusão barulhenta da vida,
guarda e retém paz na tua alma.
Com todas desilusões,
tristezas e sonhos destruídos,
isto ainda é um Mundo lindo.
Seja alegre.
Esforce-se para ser feliz.

Max Ehrmann

11 setembro 2006

11/9


11 de Setembro de 2001

Hoje é o dia 11 de Setembro de 2006 e cinco anos depois... Hoje devia ser um dia diferente, hoje...

Reservo uma maior reflexão sobre este acontecimento para depois. Entretanto, dedico a todos uma história que tem circulado na Internet. Em memória de todos e de todos nós.



Se eu soubesse que o mundo terminaria amanhã, hoje ainda plantaria uma árvore.

Martin Luther King




Muitos empregos e empresas desapareceram naquele dia. Uma empresa convidou os trabalhadores sobreviventes de outra destruída para partilhar o espaço de trabalho. O chefe dessa empresa contava a quem ele falava o porquê de alguns ainda estarem vivos, o porquê de terem sobrevivido.

O director de uma empresa atrasou-se a chegar ao emprego naquele dia. Era o primeiro dia do filho no jardim de infância e por isso sobreviveu. Um colega sobreviveu porque era o seu dia de ir à pastelaria. Até um sobreviveu porque, enquanto estreava um novo par de sapatos, fez uma bolha nos pés e por isso parou numa farmácia.

Quantos perderam o autocarro, o comboio, o metropolitano, a boleia... ficaram presos no trânsito. Quantos esqueceram-se de ligar o despertador. Quantos ficaram agarrados aos que mais amam. Quantos e quantos por "pequenas" coisas sobreviveram?

O dia-a-dia é feito de pequenas dádivas... é preciso é saber encontrá-las.